Material disponibilizado pela professora Juliana Lopes para os alunos do 1º Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. Celso Machado.
Período de transição entre Idade Média e Idade Moderna.
No
final da Idade Média, o mundo que os europeus conheciam resumia-se ao Oriente
Médio ao norte da África e às Índias, nome genérico pelo qual designavam o
Extremo Oriente, isto é, leste da Ásia.
Grande
parte dos europeus conhecia apenas o Extremo oriente por meio de relatos; como
o do viajante veneziano Marco Pólo, que partiu de sua cidade em 1271,
acompanhando seu pai e seu tio em uma viagem àquela região.
A
América e a Oceania eram totalmente desconhecidas pelos europeus.
Mesmo
as informações de que os europeus dispunham sobre muitas das regiões conhecidas
eram imprecisas e estavam repletas de elementos fantasiosos.
Durante
os séculos XV e XVI, exploradores europeus, mas principalmente portugueses e
espanhóis, começaram a aventurar-se pelo “mar desconhecido”, isto é, pelo
oceano Atlântico e também pelo Pacífico e Índico dando início à chamada
Era das Navegações e Descobrimentos Marítimos.
As primeiras rotas das grandes navegações
Os objetivos
No
século XV, os países europeus que quisessem comprar especiarias (pimenta,
açafrão, gengibre, canela e outros temperos), tinham que recorrer aos
comerciantes de Veneza ou Gênova, que possuíam o monopólio destes produtos. Com
acesso aos mercados orientais - Índia era o principal - os burgueses italianos
cobravam preços exorbitantes pelas especiarias do oriente. O canal de
comunicação e transporte de mercadorias vindas do oriente era o Mar
Mediterrâneo, dominado pelos italianos. Encontrar um novo caminho para as
Índias era uma tarefa difícil, porém muito desejada. Portugal e Espanha
desejavam muito ter acesso direto às fontes orientais, para poderem também
lucrar com este interessante comércio.
Um
outro fator importante, que estimulou as navegações nesta época, era a
necessidade dos europeus de conquistarem novas terras. Eles queriam isso para
poder obter matérias-primas, metais preciosos e produtos não encontrados na
Europa. Até mesmo a Igreja Católica estava interessada neste empreendimento,
pois, significaria novos fiéis.
Os
reis também estavam interessados, tanto que financiaram grande parte dos
empreendimentos marítimos, pois com o aumento do comércio, poderiam também
aumentar a arrecadação de impostos para os seus reinos. Mais dinheiro
significaria mais poder para os reis absolutistas da época.
Pioneirismo
português
Portugal
foi o pioneiro nas navegações dos séculos XV e XVI devido a uma série de
condições encontradas neste país ibérico. A grande experiência em navegações,
principalmente da pesca de bacalhau, ajudou muito Portugal. As caravelas,
principal meio de transporte marítimo e comercial do período, eram
desenvolvidas com qualidade superior à de outras nações. Portugal contou com
uma quantidade significativa de investimentos de capital vindos da burguesia e
também da nobreza, interessadas nos lucros que este negócio poderia gerar.
Neste país também houve a preocupação com os estudos náuticos, pois os
portugueses chegaram a criar até mesmo uma centro de estudos: A Escola de
Sagres.
Planejamento das Navegações
Navegar nos séculos XV e XVI era uma
tarefa muito arriscada, principalmente quando se tratava de mares
desconhecidos. Era muito comum o medo gerado pela falta de conhecimento e pela
imaginação da época. Muitos acreditavam que o mar pudesse ser habitado por
monstros, enquanto outros tinham uma visão da terra como algo plano e,
portanto, ao navegar para o "fim" a caravela poderia cair num grande
abismo.
Dentro deste contexto, planejar a viagem era de extrema importância. Os europeus contavam com alguns instrumentos de navegação como, por exemplo: a bússola, o astrolábio e a balestilha. Estes dois últimos utilizavam a localização dos astros como pontos de referência.
astrolábio
Também era necessário utilizar um meio
de transporte rápido e resistente. As caravelas cumpriam tais objetivos, embora
ocorressem naufrágios e acidentes. As caravelas eram capazes de transportar
grandes quantidades de mercadorias e homens. Numa navegação participavam
marinheiros, soldados, padres, ajudantes, médicos e até mesmo um escrivão para
anotar tudo o que acontecia durantes as viagens.
Caravelas
Navegações portuguesas e os
descobrimentos
No ano de 1498, Portugal realiza uma
das mais importantes navegações: é a chegada das caravelas, comandadas por Vasco
da Gama às Índias. Navegando ao redor do continente africano, Vasco da Gama
chegou à Calicute e pôde desfrutar de todos os benefícios do comércio direto
com o oriente. Ao retornar para Portugal, as caravelas portuguesas, carregadas
de especiarias, renderam lucros fabulosos aos lusitanos.
Outro importante feito foi a chegada das caravelas de Cabral ao litoral brasileiro, em abril de 1500. Após fazer um reconhecimento da terra "descoberta", Cabral continuou o percurso em direção às Índias.
Em função destes acontecimentos, Portugal tornou-se a principal potência econômica da época.
Pintura de Vasco da Gama na chegada à Índia, ostentando a bandeira usada
nos Descobrimentos: As armas de Portugal e a cruz de Cristo,
patrocinadores do movimento de expansão iniciado pelo Infante D. Henrique.
(link para anexo Vasco da Gama)
Navegações Espanholas e o descobrimento da América
A Espanha também se destacou nas conquistas marítimas deste
período, tornando-se, ao lado de Portugal, uma grande potência. Enquanto os
portugueses navegaram para as Índias contornando a África, os espanhóis optaram
por um outro caminho. O genovês Cristóvão Colombo, financiado pela Espanha,
pretendia chegar às Índias, navegando na direção oeste. Em 1492, as caravelas
espanholas, Santa Maria, Pinta e Niña partiram rumo ao oriente navegando pelo
Oceano Atlântico. Colombo tinha o conhecimento de que nosso planeta era
redondo, porém desconhecia a existência do continente americano. Chegou em 12
de outubro de 1492 nas ilhas da América Central, sem saber que tinha atingido
um novo continente. Foi somente anos mais tarde que o navegador Américo
Vespúcio identificou aquelas terras como sendo um continente ainda não
conhecido dos europeus. Em contato com os índios da América (maias, incas e
astecas) (link), os espanhóis começaram um processo de exploração destes povos,
interessados na grande quantidade de ouro. Além de retirar as riquezas dos
indígenas americanos, os espanhóis destruíram suas culturas.
Cristóvão Colombo (link para anexo)
O Tratado de Tordesilhas
Para estabelecer os domínios no Atlântico foi necessária uma longa
batalha diplomática entre Espanha e Portugal.
Pouco depois da volta de Cristóvão Colombo, o papa expediu, em maio de 1493, a Bula Inter Coetera, que reconhecida ao reino de Castela o domínio sobre todas as terras que se encontrassem a oeste de um meridiano localizado a 100 léguas a oeste das ilhas de Açores e Cabo Verde.
Portugal, sentindo-se prejudicado, não aceitou a bula papal e exigiu uma negociação direta. O resultado foi o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, em que os reinos ibéricos estabeleceram uma divisão do mundo.
Assinatura do Tratado
de Tordesilhas
(in: Manuel de Sousa, Reis
e Rainhas de Portugal, SporPress, Mem Martins, 2000, pp. 81)
Segundo o tratado, terras e mares encontrados ou por encontrar
(desde que não pertencentes a nenhum rei cristão) seriam divididos entre
Espanha e Portugal. O meridiano que passa a 370 léguas a oeste das ilhas de
Cabo Verde foi tomado como linha divisória. As terras localizadas a leste
pertenciam a Portugal. As restantes seriam da Espanha.
Linha do Tratado. A
tracejado a proposta do Papa Alexandre VI
Para os portugueses, o tratado era altamente positivo, pois lhes
assegurava a posse do litoral atlântico da África, região que já vinham
explorando. A Espanha acabaria impondo seu domínio a grande parte do continente
americano e sobre os povos que o habitavam. Com os metais preciosos encontrados
no novo continente, tornar-se-ia a nação mais rica da Europa. Por isso na
história espanhola o século XVI ficou conhecido como "o século de
ouro".
Os Aspectos
Técnicos da Aplicação do Tratado
Claro, que era muito difícil
estabelecer a correta aplicação dos limites geográficos determinados, após
alusão à linha divisória colocada 370 léguas a ocidente do Cabo Verde, os
redatores do texto, assentaram o seguinte:
- que a tal linha divisória fosse determinada no prazo de dez meses, por uma comissão de marinheiros, astrônomos e pilotos de Castela e Portugal, portanto a organização de uma expedição comum;
- que Portugal assegurasse a Castela, o
direito de passagem no espaço que lhe pertencia;
- que tendo em vista a segunda viagem de Colombo, consentiam a Castela as terras descobertas até 20 de Junho, com a condição de se situarem para lá de 250 léguas a ocidente de Cabo Verde; depois desta data, apenas vigoraria o limite das 370 léguas;
- que nem o monarca de Castela nem de Portugal recorressem ao poder papal para alterar o acordo, mas sim cumprirem o tratado nos termos em que foi assinado.
- que tendo em vista a segunda viagem de Colombo, consentiam a Castela as terras descobertas até 20 de Junho, com a condição de se situarem para lá de 250 léguas a ocidente de Cabo Verde; depois desta data, apenas vigoraria o limite das 370 léguas;
- que nem o monarca de Castela nem de Portugal recorressem ao poder papal para alterar o acordo, mas sim cumprirem o tratado nos termos em que foi assinado.
Mesmo assim, as dificuldades da determinação prática de longitudes continuavam a ser muitas, mesmo depois de atingidas as Molucas, durante anos se admitiu entre Castela e Portugal o hemisfério em que se encontravam. Esta questão acabou por ficar concluída com o Tratado de Saragoça em 1529.
Pode-se dizer que depois do Tratado de
Tordesilhas, no espaço de 40 anos desapareceram séculos de inconstância nos
conhecimentos geográficos, os ensinamentos teóricos da nossa geografia,
difundiram-se pelo Universo e os povos entraram em contato entre si.
A Europa e as navegações
Com as Grandes Navegações, novos
continentes passaram a ser conhecidos pelos europeus, assim como o oceano
Atlântico, que teve aos poucos seus segredos desbravados.
O poder dos reis, associado à burguesia
que financiava as navegações, tornou-se ainda mais forte. As riquezas obtidas
com a exploração das novas terras foram usadas na organização de exércitos para
subjugar os nobres resistentes ao processo de centralização e também foram empregadas
na montagem de um sistema administrativo que garantia aos monarcas amplos
poderes.
A burguesia enriqueceu com a expansão
do comércio para outras partes do mundo. A primeira viagem dos portugueses às
Índias deu um lucro espantoso: 6.000%! Ou seja, para cada cem moedas que
gastaram, receberam 6.000 a mais.
Com as navegações oceânicas, ocorreram
diversas mudanças na Europa:
- deslocamento
do eixo da atividade comercial do Mediterrâneo para o Atlântico;
- popularização
do consumo de especiarias;
- mudanças
de hábitos alimentares, com a inclusão de produtos como a batata, o milho,
a mandioca, o tomate e o cacau, levados da América para o continente
europeu.
- mudança
na concepção do mundo (fim da crença de que a Terra era plana, de que
existiam sereias,. Monstros marinhos, etc. nos oceanos);
- ampliação
do conhecimento da astronomia (descobrem-se as constelações do hemisfério
Sul e abre-se o caminho para a teoria heliocêntrica, ou seja, a de
que a Terra gira em torno do Sol);
- propagação
da cultura européia para os outros continentes (inclusive do
cristianismo);
- povoamento
e exploração das terras encontradas;
- grande
concentração de metais preciosos na Europa ocidental;
- submissão
das populações dos “novos continentes” à escravidão e a trabalhos
compulsórios.
Descobrimento do Brasil
As controvérsias:
Durante muito tempo
acreditou-se que o Descobrimento do Brasil tivesse sido no dia 3 de maio de
1500. Porém, o reaparecimento da Carta de Caminha, que registra o dia 22 de
abril como data oficial, acabou desfazendo a dúvida; Para muitos, a baía de
Porto Seguro (sul da Bahia) teria sido o local onde aportou a esquadra de
Cabral e onde o frei Henrique Soares de Coimbra teria rezado a primeira missa.
A descrição geográfica de documentos não deixam dúvidas de que o verdadeiro
porto seguro, citado por Caminha, seria a baía Cabrália, também no sul do
litoral baiano.
Casualidade ou
intencionalidade?
De acordo com a tese da
casualidade, Cabral procurando fugir das calmarias, afastou-se em demasia da
costa africana e ao descrever uma rota em arco, muito aberta, teria atingido o
Brasil. Outro argumento da casualidade é que uma tempestade teria desviado a
esquadra cabralina: empurrada pelos ventos para uma corrente marítima aquela
acabou por encontrar o litoral brasileiro.
Aqueles que defendem a
intencionalidade refutam esses argumentos baseados nos próprios documentos
históricos. Em nenhum deles, em especial na carta de Caminha, se encontram
referências a fenômenos meteorológicos ou geográficos, como tempestade, ventos
ou corrente marítima, capaz de desviar o curso de navegação; ocorrências que,
no mínimo, mereceriam registro do escrivão da frota. Da mesma forma, o
afastamento da costa africana, para fugir das calmarias, estava previsto e
fazia parte das instruções de Vasco da Gama, recomendando a “navegação em
arco”. Portanto, os navegadores portugueses – hábeis e com larga experiência em
viagens ultramarinas – não poderiam ter cometido um erro grosseiro de
navegação.
A Carta de Pero Vaz de Caminha,
que pode ser considerada o “registro de nascimento” do Brasil, descreve todas
as ocorrências envolvendo a esquadra, bem como o cotidiano da tripulação. como
se a escala no Brasil estivesse prevista, não se alterando, em nenhum momento,
os planos Iniciais da viagem.
Ainda
como argumento da intencionalidade sobre o Descobrimento do Brasil, na carta
que escreveu aos reis da Espanha, D. Manuel I demonstra um certo conhecimento
sobre as terras que ele comunica terem sido “descobertas” no Atlântico. Por
fim, a reação de D. João II, rei de Portugal na época dos tratados de partilha,
ao contestar a demarcação da Bula Inter Coetera de 1493, aceitando,
posteriormente, a demarcação
de Tordesilhas de
1494, é uma prova cabal do conhecimento que os portugueses tinham de terras na
parte ocidental do Atlântico.
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